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quarta-feira, 15 de abril de 2009

MUDANÇA NO BANCO DO BRASIL COMO MEDIDA DE ENFRENTAMENTO

Gilberto Ribeiro de Castro1

Esta semana foi marcada pela troca inesperada da presidência do Banco do

Brasil. O que significa esta mudança e qual a razão do desespero dos representantes do

setor financeiro?

A queda de braço no PT, ou melhor, no Governo Lula teve início com a

famigerada “Carta ao Povo Brasileiro”, que precedeu e assegurou a eleição do

presidente Lula. Antes mesmo das eleições presidenciais, o campo conservador, que

defende o fortalecimento do mercado financeiro e da liberdade e autonomia do Banco

Central, conquistou o comando político do Governo Lula. Os bons ventos do oriente e

da “bolha” imobiliária norte americana propiciaram a consolidação desse grupo e o

sucesso da política econômico-financeira do Governo. O céu de brigadeiro e o vôo de

águia prevaleceram em detrimento das turbulências e do vôo de galinha do governo

anterior, leia-se FHC, inimigo e a obsessão maior de Lula e do PT. A liberdade e

autonomia do Banco Central, neste clima favorável, possibilitaram aumentos

extraordinários de dividendos para acionistas e banqueiros deste país.

“No meio do caminho há uma pedra...”. Pois bem, o (im)previsível aconteceu às

17 horas e trinta e três minutos, do dia 1º. de outubro de 2008, para aqueles que ainda

vêem a Economia como uma Ciência Exata. A quebra do setor imobiliário norte

americano começou a impactar no Brasil, até então blindado pelas vitoriosas e

lucrativas políticas do Banco Central. Chegamos a ouvir que fomos os últimos a sentir a

crise e, que ela veio tão fraca, que seríamos o primeiro país a dela sair, com apenas

alguns arranhões.

Mas o tempo, “compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”, tratou de

desmistificar a exatidão da Ciência Econômica e veio desblindando ou jogando por terra

a falácia do impacto de marola na economia brasileira.

Agora a coisa é séria, depois dos recordes de popularidade do Governo e do

próprio Presidente Lula, os números começam a desabarem e alguma coisa precisa ser

feita. Saem de cena aqueles conservadores citados acima, chega a hora de por fim na

liberdade e autonomia e fazer aquilo que de fato o mercado não consegue fazer, como

rezam os mais elementares manuais de Economia: a necessidade da atuação do setor

público, o Estado, prende-se à constatação de que o sistema de preços não consegue

cumprir adequadamente algumas tarefas ou funções. Ou seja, sai de campo os tão

aplaudidos Neoliberais e entram os odiados Keynesianos. Bem claro: aplaudidos e

odiados por uns e vice e versa por outros. Briga ideológica de Capitalistas grandes:

mercado versus Estado.

Na prática, o Governo Lula está sacando o presidente do Banco do Brasil, ligado

aos princípios da Carta ao Povo Brasileiro, que defende as altas taxas de juros, para

combater a inflação e, colocando outro, que também defende a Carta, porém

preocupado com o desenvolvimento econômico. Isto mesmo: a Carta, de 22 de junho de

2002, joga dos dois lados: de um lado para defender e beneficiar o mercado financeiro e

do outro para crescer e defender uma parcela maior da população. O plano B, que

também faz parte dos princípios de governo da dita Carta, está sendo colocado em

prática; quem leu viu.

1 Economista, Especialista em Política Econômica, Mestre em Ciências Sociais cursados na Puc Minas,

Analista de Gestão de Políticas Públicas da SEDESE/MG e professor da FACED Divinópolis. E-mail:

gilbertobetao@uol.com.

É exatamente por isto que o chororó daqueles que sempre ganharam, mercado

financeiro e banqueiros, ganhou a mídia: isto é um absurdo, estão tirando a liberdade e

autonomia do Banco Central (que foi quem mudou os caminhos do Banco do Brasil e o

colocou como o mais lucrativo dos bancos em 2008, rendendo dividendos e mais

dividendos).

Mais do que isto, a mudança de presidente do Banco do Brasil pretende reduzir

concretamente os juros brasileiros, os maiores juros do mundo, através da competição

entre Bancos. O Estado quer a redução dos juros, para facilitar financiamentos e

minorar os efeitos da crise, mas os Bancos Brasileiros, cartelizados que são, não acham

esta intervenção interessante, pois seus ganhos (spread) históricos serão

automaticamente reduzidos.

A crise parece que está de fato só começando. É a confirmação de que a

Economia não é mesmo uma Ciência Exata. Qualquer previsão, por mais cálculos que

se faça, não passa de especulação. No interior do país as rescisões trabalhistas não

param de aumentar e mais setores da economia são afetados. As seguidas quedas nas

receitas públicas municipais amedrontam os recém empossados prefeitos. O Governo

Federal sabe muito bem o que está acontecendo e procura, desesperadamente, adotar

medidas para evitar o mal maior. As altas taxas de juros praticadas aqui no Brasil,

voltadas exclusivamente para o mercado financeiro, cumpriram sua função e, precisam

agora, mais do que nunca, mudar de direção e salvar o nosso povo, que é o seu

verdadeiro papel. A Economia tem que estar a serviço da sociedade e não,

exclusivamente, para assegurar os exorbitantes e emblemáticos lucros dos bancos.

A surpreendente mudança da presidência do Banco do Brasil significa que o

Presidente da República, legalmente, ainda detém o controle sobre a Política Econômica

do país. E, como podemos observar, o que a história sempre nos mostrou, o mercado

não sabe se defender de crises. O mais forte é que, espertamente, tira proveito dele. Por

isto é que cabe ao Estado, acabar com esta esperteza e proteger o seu povo, que é a sua

razão de ser

A Economia Brasileira precisa crescer para enfrentar os impactos decorrentes da

crise mundial. A redução das taxas de juros, a partir da ação dos bancos controlados

pelo Estado, é uma das estratégias conseqüentes e inadiáveis para este enfretamento.